Nóbrega e Sousa - Obra Musical

segunda-feira, março 24, 2008

Sérgio Borges: "Onde Vais Rio Que Eu Canto" (1970)

1970
Columbia / Valentim de Carvalho
8E 016 40063 M

1. Onde Vais Rio Que Eu Canto
(Joaquim Pedro Gonçalves / Nóbrega e Sousa)

2. A Voz do Chão

(Francisco Nicholson / Jaime Filipe - Victor Campos)

3. Velho Sonho
(Andrade e Silva)
4. Raining in My Heart
(Boudleaux Bryant - Felice Bryant)

Sérgio Borges (voz)
Joaquim Luiz Gomes (direcção de orquestra) - faixa 1
não creditados:
Adrien Ransy (bateria) - faixa 1
Pedro Osório (direcção) - faixas 2 e 3


Neste disco se encontra a versão original de "Onde Vais Rio Que Eu Canto", com que Sérgio Borges (n. 1944) venceu o Festival da Canção desse ano. Uma vez que Portugal decidiu apresentar o seu protesto pelo sistema de votação que então vigorava e que permitiu que em 1969 houvesse quatro vencedores ex-aequo no Festival da Eurovisão, o vocalista do Conjunto João Paulo não foi a este certame e levou a canção ao World Popular Song Festival, em Tóquio. Esta foi, aliás, a estreia do nosso país nesse evento, onde em 1975 José Cid lograria um 9º lugar e o prémio "outstanding composition". Desta vez, a representante portuguesa não chegou à final, mas a ocasião foi também importante por ter permitido a Sérgio Borges conhecer a canção "Pearls in Her Hair", dos húngaros Omega, que aqui se classificaria em 3º lugar. Em 1972, esta ocuparia o lado B do último single do Conjunto João Paulo, "Mar (Meu Pão, Casa, Pedra, Fome)", fechando assim com chave de ouro a sua carreira discográfica.

"Onde Vais Rio Que Eu Canto" contava com letra de Joaquim Pedro Gonçalves (n. 194?), então um jovem estudante que se estreara poucos anos antes nas lides musicais. António Mourão, Mirene Cardinalli e João Maria Tudella, entre outros, tinham já cantado palavras suas. De entre as outras três músicas deste disco, duas delas tinham sido também concorrentes ao Festival da Canção de 1970 - "A Voz do Chão", na voz de Rute, e "Velho Sonho", na de Artur Rodrigues - e "Raining in My Heart" fora um dos últimos temas gravados pelo malogrado Buddy Holly, em 1958.

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domingo, julho 01, 2007

Luísa Maria: "Gota de Chuva..." (1962)

1962
Alvorada / Rádio Triunfo
AEP 60 503

1. Gota de Chuva
(Fernando Correia / João Andrade Santos)

2. A Bela Época

(Ferro Rodrigues / Nóbrega e Sousa)

3. És Tu
(Eduardo Damas / Manuel Paião)
4. Jurar Falso
(António José / Nóbrega e Sousa)

Luísa Maria (voz)
Conjunto de Jorge Machado (acompanhamento)


Nada conheço sobre a carreira de Luísa Maria (e daqui apelo à ajuda de quem saiba algo), mas este disco não poderia deixar de ser aqui referido por isso. Editado em 1962, reúne uma versão do tango "Jurar Falso" - escrito originalmente para Alice Amaro e que contava com texto de António José (1929-2003) - e o original "A Bela Época", uma canção em que tanto as referências musicais como as literárias tentam fazer transportar o ouvinte para a Paris da viragem do século. No entanto, o texto de Ferro Rodrigues (1924-2006) - pai do político homónimo - faz também um retrato satírico da decadência fin de siècle: "Já não faz mal que não tenhas vintém / que ser marquesa muito me convém". O conjunto de Jorge Machado (1927-2006) acompanhava a cantora de forma irrepreensível, como era apanágio deste músico.

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domingo, maio 27, 2007

Maria Dilar: "Longe do Céu..." (1968)

1968
Marfer
MEL. 2-117

1. Longe do Céu
(António José / Ferrer Trindade)

2. Quando Me Inamoro

(Mario Panzeri / Daniele Pace - Roberto Livraghi)

3. Já Não Sou Criança

(Hernâni Correia / Nóbrega e Sousa)

4. Millie
(Sammy Cahn / Jimmy Van Heusen)

Maria Dilar (voz)
acompanhamento orquestral não identificado


Maria Dilar (n. 1945) iniciou a sua carreira precisamente na década de 1960, tendo previamente gravado para a etiqueta Alvorada, da Rádio Triunfo. Neste seu EP, editado pela firma espanhola Marfer, juntam-se duas versões de canções estrangeiras de sucesso com duas outras originais. Em relação às primeiras, tratava-se de "Quando M'Innamoro" - tema que Anna Identici levara ao sexto lugar no Festival de Sanremo de 1968 - e de "Millie", do musical americano homónimo. No que tocava às portuguesas, o lado A abria com "Longe do Céu", uma canção servida por arranjos orquestrais em que se destacavam os solos da secção de sopros. Do outro lado, "Já Não Sou Criança", com texto de Hernâni Correia (1925-1998) - e natural de Lagos, tal como Maria Dilar - mostrava uma música que apelava à dança e que tentava provar que Nóbrega e Sousa estava a par dos novos ritmos da moda juvenil.

Maria Dilar continuaria a sua carreira até aos dias de hoje, tendo ainda no ano passado editado o álbum "Fados Que Canto", pela Ovação.

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quinta-feira, janeiro 11, 2007

Siegfried Sugg - Thilo Krasmann: "Benfica do Ribatejo..." (1957)

1957
Alvorada / Rádio Triunfo
MEP 60057

1. Benfica do Ribatejo
(António Paixão - João Calvário)

2. A Portuguesinha

(Rui Furtado - Henrique Cofiner)

3. Fado da Severa

(Frederico de Freitas)

4. Má Sorte

(Nóbrega e Sousa)

Siegfried Sugg (acordeão)
Thilo Krasmann (acordeão)


Os alemães Siegfried Sugg (n. 1933) e Thilo Krasmann (1933-2004) vieram para Portugal em meados da década de 1950, de forma a ensinarem acordeão, e acabaram por ir ficando. Enquanto Krasmann construiu uma das carreiras mais importantes na música portuguesa, desde o Thilo's Combo até à sua importantíssima vertente de arranjador para trabalhos de outros, já Sugg manteve uma actividade mais "na sombra", embora não deixasse também de afirmar o seu talento sempre que participava em discos de outros (em nome próprio, apenas conheço um outro disco seu, de 1970). Manteve, também, uma profícua actividade como director musical em diversos discos de música infantil das décadas de 1970 e 1980, em projectos coordenados por Andrade e Silva e por Migú.

"Má Sorte" fora originalmente escrito para o reportório de Maria de Fátima Bravo, contando com letra de Jerónimo Bragança, e terá sido gravado pouco antes desta versão instrumental de Siegfried Sugg e Thilo Krasmann. Tanto quanto sei, este é também o primeiro disco de ambos no nosso país.

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quarta-feira, janeiro 10, 2007

Nóbrega e Sousa - Breves Dados Biográficos

Carlos de Melo Garcia Correia Nóbrega e Sousa nasceu em Aveiro a 4 de Novembro de 1913 e faleceu em Lisboa a 3 de Abril de 2001, e foi, sem dúvida, uma das figuras de maior talento e valor da música portuguesa no séc. XX. Apesar de o seu nome estar associado à canção ligeira, com que se notabilizou junto do público, terminou o curso superior de Piano no Conservatório Nacional, em Lisboa, onde foi aluno de Tomás Borba, de Luís de Freitas Branco e de Vianna da Motta. Já por essa altura, no entanto, estava tomado de amores pela música ligeira, o que fez com que a sua primeira obra publicada, Aventura de Amor, fosse uma valsa. Publicada pela casa Sassetti, embora custeada inicialmente pelo autor, a partitura vendeu os seus quinhentos exemplares em quinze dias, e foi o primeiro de muitos sucessos. Mantendo uma carreira como pianista acompanhador, Nóbrega e Sousa entra para a antiga Emissora Nacional em 1940, onde exercia funções de assistente de programação. Começa também a colaborar no teatro de revista, escrevendo músicas que granjearam grande sucesso na época. Não é portanto admiração para ninguém quando, em 1958, o compositor vê a sua canção "Vocês Sabem Lá" atingir um sucesso estrondoso no 1º Festival da Música Portuguesa (Figueira da Foz), na interpretação de Maria de Fátima Bravo. Essa época coincidiu com o início da comercialização em Portugal dos discos em vinil de 7 polegadas, com duas canções de cada lado, o vulgar EP (extended play), e foi precisamente a partir dessa época que o sucesso de Nóbrega e Sousa aumentou. Era agora possível a uma maior faixa de público levar para casa as músicas que ouvia na rádio, já que a vulgarização da prensagem do vinil trouxe também capas coloridas e preços mais baixos, o que tornou o antigo disco de 78 rpm algo de obsoleto e pouco atractivo.

Este blog pretende assim ser uma homenagem à obra musical de Nóbrega e Sousa, traçando o seu percurso a partir da segunda metade da década de 1950 através dos discos em que surgem canções de sua autoria. Embora vá ser privilegiado o disco em vinil, não serão esquecidos os CD's. Para cada registo, será apresentada a capa, a ficha técnica e o alinhamento completo, para além de quaisquer outras informações adicionais pertinentes. Espera-se assim contribuir para uma maior divulgação das obras de Nóbrega e Sousa, muitas delas arredadas do contacto público há décadas, e contribuir para que se possa cumprir o que Jerónimo Bragança (o mais fiel letrista das músicas do compositor) deixou expresso na biografia "Nóbrega e Sousa - Uma Vida Cheia de Música", de 1998: que alguma editora publique em CD parte substancial do legado deste aveirense de mérito. Já tarda tal edição!

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